Malu Nachreiner, líder da divisão agrícola da Bayer no Brasil; Dulce Chiamulera Ciochetta, sócia proprietária do Grupo Morena; e Mariana Vasconcelos, CEO da AgroSmart, participaram do debate

Pautas urgentes para o meio ambiente tomaram conta do final do penúltimo dia do Power Trip Summit 2020. Os desafios da sustentabilidade na produção rural e o papel das mulheres em relação ao ecossistema foram debatidos em mesa conduzida por Laura Ancona, nossa diretora de redação.

A conversa teve participação de Malu Nachreiner, líder da divisão agrícola da Bayer no Brasil, Dulce Chiamulera Ciochetta, sócia proprietária do Grupo Morena; e Mariana Vasconcelos, CEO da AgroSmart.

“Cresci e desenvolvi minha carreira com o pensamento do ‘eu posso’ por ter uma presença feminina muito forte dentro de casa”, disse Malu ao resgatar sua trajetória pessoal e seu ingresso no agronegócio num tempo em que não haviam muitas mulheres em cargos de liderança. “Mais do que ser mulher, no meu caso pesou de onde eu vim: Sempre estudei em escola pública; e hoje o que me move é como podemos mudar a cara da educação do país para que trajetórias como a minha não sejam exceções”, completou.

O avanço da liderança no agronegócio entre as mulheres foi abordado em seguida. Segundo dados de 2019, as mulheres que atuam no setor do agronegócio são responsáveis por 30% do segmento. De acordo com informações de 2015 do jornal britânico The Guardian, empresas lideradas por mulheres poluem menos. “Hoje é impossível pensar que você não tem uma mulher dentro de uma corporação, no entanto, as perspectivas masculinas e femininas são diferentes, apesar de complementares. Porém, mesmo com as mudanças, as mulheres ainda têm muito o que avançar [na liderança do agronegócio]”, expôs Dulce.

Em relação à sustentabilidade, Malu defende que é um tema que precisa ser melhor abordado pelo setor. “A agricultura de alta produtividade não é inimiga da sustentabilidade e às vezes não conseguimos nos colocar dessa forma como setor”, disse. Para Dulce, a sustentabilidade é uma pauta que precisa estar na pauta de qualquer empresa. “São práticas que você tem hoje pensando nas futuras gerações. Muitas vezes a sustentabilidade só é lembrada pelos benefícios ao meio ambiente, mas ela também é formada por mais dois pilares: o social e o econômico”, apontou.

Sobre a implementação tecnológica no agronegócio, Mariana Vasconcelos acredita ser uma jornada. “Existem produtores e indústrias em várias fases desse caminho. A primeira são os dados. Porém, há barreiras como a conectividade e o acesso financeiro”, explicou.

A respeito do impacto das queimadas para o setor do agronegócio, Malu acredita ser importante melhorar a comunicação do setor com a sociedade e diminuir a polarização. Para Dulce, por vezes há uma imagem distorcida do que a maioria dos agricultores fazem pelo agronegócio. “O Brasil tem um problema muito sério que é a questão fundiária, principalmente na região da Amazônia, nós não temos nomes e sobrenomes; e fica difícil aplicar a lei onde essas queimadas acontecem”, afirmou. Mariana complementou dizendo que a imagem negativa do agronegócio em relação às queimadas vai não só para o produtor, mas também para o setor de investimento. “A má comunicação do setor com a população também compromete o país como uma opção de investimento externo”, disse.

“Brasil tem um problema sério que é a questão fundiária, principalmente na região da Amazônia, nós não temos nomes e sobrenomes; fica difícil aplicar a lei onde essas queimadas acontecem”

Dulce Chiamulera Ciochetta
Por fim, as participantes falaram sobre as adversidades que encontraram num setor majoritariamente masculino. Para elas, a chave de suas conquistas está na resiliência, ao conhecimento e na comunicação.

Em sua quarta edição, o maior encontro de liderança feminina do Brasil conta com mais de 80 convidadas, entre CEOs, executivas e representantes de diversos setores. De 13 a 16 de outubro, elas se reúnem em palestras e debates sobre temas como ciência, tecnologia, saúde mental, meio ambiente e enfrentamento à violência e ao assédio no mercado corporativo.

Este ano, o evento acontece em formato híbrido. Parte das convidadas e do time da revista se encontram, seguindo as regras de distanciamento social, no estúdio criado especialmente para a ocasião no Espaço Casa Bossa, no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Já as demais convidadas interagem em uma plataforma virtual concebida especialmente para o Power Trip Summit.

A comediante australiana Hannah Gadsby, que se transformou num fenômeno mundial com os monólogos Nanette e Douglas; a ativista pelos direitos civis norte-americana Opal Tometi, uma das fundadoras do movimento Black Lives Mater; e a holandesa Jennifer Morgan, diretora executiva internacional do Greenpeace, estão entre as convidadas estrangeiras do evento. Além delas, participam, entre outras, as brasileiras Cármen Lúcia, Ministra do Supremo Tribunal Federal; Luiza Helena Trajano, presidente do conselho da Magazine Luiza; Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil; e Janaína Rueda, cozinheira e sócia do Bar da Dona Onça e A Casa do Porco Bar.

Apenas as convidadas terão acesso ao vivo ao evento, mas todo o conteúdo estará disponível no dia seguinte à apresentação no YouTube de Marie Claire. Acompanhe a cobertura exclusiva no nosso site e em nossas redes sociais.

Mariana Marinho
Fonte: Revista Marie Claire